Maryynha
Fiquei exultante e saltitante como uma gazela no cio ao receber sua última missiva! No entanto, ao checar a data da mesma, constato que ela foi escrita às vésperas do Natal! Santo Deus! Mais apreensiva fico ao ler que você veio de Veneza para degustar em Mangaratiba um peru natalino que não o de Holmes, seu amantíssimo esposo! Será que você, minha doce amiga, foi vitimada pelos desabamentos na região da Serra do Mar?
Assisitindo na GatoNet o resgate das vítimas dessa tragédia sem precedentes, percebo que encontraram o corpo de um ancião canadense com o membro ainda ereto e retesado, consequência de algum remédio genérico cedido por Mary para realizar as suas fantasiosas estrepulias sexuais escondida em nossas matas tupiniquins. Seria esse o peru natalino importado com o qual Mary estava se refastelando? Se o corpo de minha preciosa amiga for encontrado, não haverá tecnologia no Brasil capaz de identificá-lo, pois Mary nem mais arcada dentária original possui, modificada por centenas de próteses e cirurgias plásticas! Mary, Mary, Mary! Rogo aos céus que o Itamaraty traga ao Brasil os melhores arqueólogos do mundo para identificar sua múmia. Só assim seu féretro poderá percorrer as filiais de suas panificadoras, comovendo a todos até chegar ao seu jazigo perpétuo, onde descansará em paz! Em sua lápide escreverei: “Aqui jaz Maryynha, uma menina de rua sem pão que se prostituia, mas venceu na vida e conquistou uma rede de padarias.”
Tenho esperanças que tenha dado tempo de você modificar seu testamento a meu favor, trocando os míseros gramas de mortadela e baguetes que me envia como doação mensal por um autêntico presunto de Parma e alguns croissants! Isso seria o mínimo que sua generosidade poderia fazer por sua tão dedicada amiga, sua mão de vaca! Mas, avarenta, morreu por estar numa pousadinha de quinta categoria no alto de uma perigosa encosta ao invés de hospedar-se com o amante num resort de alto luxo…
Vá, querida, vá! Que seu corpo quase bicentenário descanse! Já era mesmo hora de reencanar…
Um beijo, querida.
Ravenna Lossel Di Willinsdoph